(Imagem: Vida Amazônica)
O colunista renomado André Carvalhal, especializado em pesquisa de tendências e design, destaca os ícones do design brasileiro como verdadeiros símbolos da nossa cultura. No universo do design, a criação de uma identidade visual assume uma importância multifacetada, sendo um dos elementos essenciais para a construção de uma imagem nacional autêntica. Nesse sentido, ao abordar recentemente o significado das tendências, enfatizei a importância de fortalecer o que torna o Brasil singular no mundo do design. Isso implica resgatar símbolos de valor cultural duradouro, indo além das efêmeras tendências estéticas.
Agora, direcionemos nossa atenção ao design de interiores brasileiro. As raízes das tradições que envolvem o nosso mobiliário nacional remontam aos povos originários, muito antes da época da colonização e da chegada de diversos outros grupos culturais que enriqueceram a diversidade brasileira com suas próprias influências e culturas.
Dentro deste contexto, os objetos confeccionados a partir de materiais naturais, como palha, argila e madeira, desempenham um papel fundamental e perduram até os dias atuais, integrando-se harmoniosamente aos nossos ambientes e à nossa identidade cultural. Para os povos originários do Brasil, as matérias-primas naturais estabelecem uma conexão íntima com o ambiente, que não apenas fornece os recursos necessários, mas também serve como fonte de inspiração para a ornamentação dos objetos, refletindo uma profunda relação entre a natureza e a arte.
Outro momento crucial no desenvolvimento do design nacional ocorreu a partir dos anos 1910, quando a noção de design começou a tomar forma e a adotar essa denominação em terras brasileiras.
Na década de 1920, com a eclosão do movimento modernista, houve um grande impulso nas discussões sobre a identidade estética nacional, desempenhando um papel fundamental na valorização da cultura cotidiana do Brasil. Nesse contexto, a ideia de regionalismo ganhou grande relevância, acompanhada do reconhecimento das diversas culturas que contribuíram para moldar a identidade nacional.
(Imagem: Tarsila do Amaral)
Falando em vida cotidiana, é notável que muitas das peças mais emblemáticas do design brasileiro emergem diretamente das experiências do dia a dia. Como ressalta Marcos da Costa Braga, professor de design da USP, em uma entrevista para a Vogue: "A materialidade reflete nossa essência. A maneira como uma sociedade aborda as questões cotidianas e os instrumentos que utiliza para solucioná-las revelam sua mentalidade e forma de agir". Nesse contexto, diversos objetos de destaque surgiram sem uma autoria específica e se transformaram em verdadeiros símbolos das residências brasileiras, a exemplo da cadeira monobloco e do pequeno espelho com moldura laranja. Quem nunca teve a oportunidade de encontrar um desses itens em sua própria casa?
(Imagem: Gui Gomes)
Outro emblemático símbolo nacional, cuja origem permanece envolta em certo mistério, é a cadeira "espaguete" ou cadeira de fio. Até os dias de hoje, é possível encontrar inúmeras variações dela em feiras de rua ou sendo comercializadas por vendedores ambulantes que ainda fazem visitas domiciliares. Essa cadeira é um perfeito exemplo do autêntico mobiliário brasileiro: assentos confortáveis, vibrantes em cores e extremamente acessíveis, ganhando inúmeras interpretações em cada local por onde passam.
(Imagem: Gama)
Por outro lado, o filtro de barro é quase uma espécie de ícone nacional e representa uma inovação genuinamente brasileira. Embora moringas cerâmicas já fossem utilizadas por povos indígenas em várias regiões da América do Sul, foi aqui que o filtro de barro, tal como o conhecemos, foi concebido, incorporando a importante adição de carvão em seu design.
(Imagem: Revista PB)
Ainda durante a década de 1920, surgiu um ícone da modernização do mobiliário brasileiro: as camas patente. Embora talvez você não as reconheça por esse nome, é bem provável que já tenha tido uma delas ou um modelo similar em sua casa. Essas camas se transformaram em um símbolo do design moderno no país, não somente por serem uma criação nacional, mas também devido ao seu design funcional, descomplicado e fácil de montar, características que desempenharam um papel fundamental em sua ampla disseminação.
(Imagem: SP em Foco)
A partir da década de 1950, assim como Oscar Niemeyer se destacou como um dos eminentes arquitetos do Brasil, Sérgio Rodrigues emergiu como uma figura central no mundo do design de interiores. Sua criação mais icônica é a poltrona Mole, uma peça que continua a enriquecer espaços e é venerada por numerosos designers e arquitetos brasileiros até os dias atuais.
(Imagem: Centro Brasil Design)
Por outro lado, a cadeira Bowl, projetada por Lina Bo Bardi, nunca encontrou seu caminho para muitos lares brasileiros, pois nunca foi produzida em larga escala. No entanto, ela serve como um excelente exemplo de como o mobiliário brasileiro pode transcender fronteiras e se tornar um símbolo artístico internacional.
E para você, qual peça considera ser a mais emblemática, representando o design de interiores brasileiro?
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